Carlos Paz I Argentina
Quatro em um

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O dia dezanove começou a dezassete. Nunca em menos de um dia de viagem conseguiríamos chegar a um sítio decente para o aniversário da Bárbara. O dia a mais que demos a Cafayate roubou-nos um dia de planos, e irmos as duas sozinhas para o meio do Valle de la Luna, em noite de lua cheia, podia ser um programa bonito, mas não para comemorar alguma coisa. Depois havia Mendoza, que para além de nos obrigar a passar a meia-noite num autocarro, tinha fama de caro, turístico e gelado. Olhávamos para o mapa e fazíamos contas às horas, somávamos as conexões e paragens dos autocarros a ver onde ainda conseguíamos chegar. E porque não Córdoba? Enviámos mensagem ao Ezequiel, o amigo que fizemos no Equador, a perguntar se o irmão sempre estava por lá. Num par de horas a resposta – não só está o irmão, como está ele e uns amigos porteños, e se não houver festa, “arma-se uma”. Então temos plano, é para Córdoba que vamos.

Mas quem é que disse que o plano era fácil? às seis da manhã temos que apanhar um autocarro para Tucuman, a ver se chegamos a tempo de apanhar o outro até Córdoba, que ainda temos que apanhar um outro até Carlos Paz, a ver se chegamos a tempo da meia-noite. Viagem ensonada e trombuda, entre avarias, apertos de chichi, sandes de miga e correrias. Mas às onze da noite estamos em Carlos Paz, até parece mentira. E nem acreditamos quando o Ezequiel entra estação adentro de carro, e vai haver assado esta noite. é só mais uma viagem, agora de vinte minutos até ao Castillo, uma casa de campo de amigos onde já se assam carnes e há Fernet com Coca para toda a gente. é a primeira vez que se passa o aniversário de Agosto com casacos de lã e mãos estendidas para as brasas. Está um frio e uma ventania que só se aquece quando o assado já está na mesa e o espaço é pequeno para tanta gente. Acabámos de conhecer quinze argentinos de uma vez só e temos uma noite pela frente para ficarmos amigos. Podíamos bem estar num jantar português, daqueles com garrafas vazias em cima da mesa e conversas tão realistas que tocam o surrealista, dos que esmiúçam os pormenores até não restar mais nada. Os dois irmãos estão à cabeceira e contam histórias de “se cagar de la risa”, fazem-se jogos de dados na disputa do último bombom, neste caso bon-o-bon, e termina-se a noite num quarto chão-de-colchão e pezinhos de lã para não pisar o colchão ao lado.

Passa-se mate ao pequeno-almoço, depois vai-se para a beira do lago e passa-se mais mate, chega-se finalmente a casa e passa-se outra vez o mate, e a cada vez que nos toca o trago, fazemos cara feia de tão forte que está. Na Argentina é assim, andam todos de termos e hierbas na bolsa, e a cada pretexto, em cada paragem lá se volta a passar o mate. O Ezequiel e os amigos vão hoje para Buenos Aires e na casa do Le Chin, o irmão com quem ficamos, há despedidas, beijos e abraços. é estranho ver alguém partir quando nos toca ficar, há muito não nos acontece, somos sempre nós quem segue caminho. Mas ao Ezequiel vemo-lo em pouco mais de uma semana, não é tão grave assim, e afinal estamos com o Le Chin, que é a cara chapada, o jeito e a graça do irmão, só que com rastas, com o fabrico da cerveja artesanal, e a “fiaca” que tudo isso junto lhe dá. Só lá íamos passar o aniversário, mas ficámos o resto da semana. Carlos Paz foi a casa e o meio caminho entre as cidades e vilas ali ao lado.

Alta Gracia fica a uma hora de autocarro, atravessa-se a serra e dá-se com uma vila verdinha, de lago ao centro, árvores despidas e vivendas de muitas nacionalidades e muitos anos, do tempo do Ernestinho, o menino que sofria de asma e mudou a família para os bons ares de lá. A Casa de criança do Che Guevara são paredes de ternura e tenacidade, “juguetes” e fardas de resistência, de palavras de ordem e palavras de amor. Fechamos a cancela da casa em silêncio, comovidas, hasta um dia destes.

Carlos Paz outra vez, a cidade onde os argentinos vão passar férias em massa e onde nós ficamos sempre por casa, a fazer despiques de youtube com o Le Chin e com os amigos que sempre batem à porta e se deixam ficar mais um bocado. Recomendam-nos mais uma vila – Villa General Belgrano. Esta fica a duas horas de lá e a muitas mais da Alemanha, é um lugar tão adentrado e inesperado que ninguém daria com alemães por lá. é quase desinteressante passearmos por esta terra do interior norte argentino e darmos com enfiadas de casas de telhados bicudos, cervejarias artesanais e madeirinhas de fachada que fazem lembrar a Alsácia alemã. Dizem que por lá há nazis fugidos, famílias suspeitas bem disfarçadas e gerações que levam por tabela. Fazemos o filme a cada cabelo loiro e olho azul com mais de oitenta anos – o casal idoso e amoroso à nossa frente no autocarro podia bem ser o velhote que o Sean Penn procura para vingar o pai, como se este fosse o lugar onde se encontram estes personagens. Mas entre a ficção e a possibilidade de estas serem histórias verídicas, já estamos nós no autocarro de volta a casa.

Córdoba ficou para o fim. A segunda cidade da Argentina só teve direito a um almoço, uma tarde passeio e uma espera na estação. Que pena, é sexta-feira e em vez de passarmos a noite na capital da festa, passamos mais uma noite no autocarro para Mendoza.