Rio de Janeiro I Brasil
Cidade maravilha

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Deixámos o Rio para o fim, como aquela última colherada que enche a boca de sabor, o último trago de uma bebida fresca que não se quer misturar com nada, o cheiro das hortênsias que se cola à pele e que não se quer lavar, o sabor do café. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Envolvemo-lo “em encantos mil” e levámo-lo a passear de chinela de dedo, compasso de anca e riso frouxo.

Entrámos pela porta dos fundos, pelos entupimentos dos arrabaldes, furámos, empurrámos, chegámo-nos à frente para entrar no centro do engarrafamento de cachaças e antárticas, das filas e rodas de pandeiro e reco-recos, da gente na rua, no cheiro a fritos, a álcool por destilar, a suor quente, a mijo de esquina. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. As garotas de Ipanema, o guaraná e os sucos de caju ficam para depois. Agora é tempo para as vielas de gatos assanhados, para os quelhos tremidos, para o gingar delirante do samba, para o bar da cachaça, para as paredes do roque e do grafiti.

Começámos nos caracóis da Lapa, nas carapinhas felizes, nos rastafáris gingões, entrámos pelos furos nas orelhas e pelos desenhos na pele. Rompemos a batucada de corações, com palmas dentro do tempo e assobios de quem sabe assobiar. Gabriela em dois tragos, Gengibre num só, bebe-se melhor, pica mais. Travessas de aipim em cima da mesa, cigarros que rolam e que se enrolam, bim bom bim bim bom bom, dum bom dum bom dum bom. Bonde, a linha do bonde deixa-nos em Santa Teresa, a pequena Lisboa para quem nunca foi a Salvador. Feirinhas de artesanato, cafés em esplanadas com livros, bolos de feijão no Mineiro, feijoada no Mineiro, conversa no Mineiro e depois “o famoso bar do Gomez” aquela esquina onde sempre sabe bem parar para a Skol e para picar mais Ai-pim. Santa Teresa, de um lado a Zona Sul, do outro o Centrão, vivendas do inicio do século, varandins para a favela, janelas para os prédios, aparições do Cristo e aquela pinta toda de bairro intelectual e dos artistas.

Mas nada que se compare às longas caminhadas pelo Centrão. A sair logo de manhã do Largo do Machado para comer um pão na chapa com queijo de minas, beber suco de abacaxi ou maracujá e tomar aquele café que sempre fazemos figas para que não seja demasiado açucarado. Cruzamos os Arcos da Lapa, topamos o Circo Voador, atravessamos a Rio Branco, o Arco do Teles, o Espaço Cultural do Branco Brasil, andamos às voltas pelo Real Gabinete Português de Leitura e pelo Teatro Municipal, espreitamos a grande Confeitaria Colombo e perdemo-nos nos sebos apinhados de Sabinos, Assis e Amados. Palácios oitocentistas, botecos e lanchonetes, igrejas e grandes fachadas, açaís, pastel e coxinhas de frango, malandros, moleques e vitrais. Cheira a maconha nas esquinas, há vagabundos e corpos enrolados no papelão.

E depois o Saara, que de Saara só tem o tamanho. Estamos na antítese da aridez e do monocromatismo, são onze quarteirões de tangas e de cangas, corredores de alfinetes e esferovites, linhas de lojas de óculos de sol, bugigangas e bijuterias. Das piratarias aos piratas, das havaianas ao Havai, do Natal à Páscoa, e nem falamos no Carnaval. Tudo made in China, made in Thailand, made in Bangladesh.

Mas se é Segunda-feira corremos para a Praça Mauá, a praça para onde sempre caminhavam o Billy Blanco, o Newton Mendonça , o Lúcio Alves, o Dick Farney, a Dolores Duran, o Jobim, o João Gilberto. As gravadores ficavam para lá, mas hoje a música faz-se de escavadoras, guindastes e caterpillars, as obras são para a Copa e valha-nos o Museu do Mar para resgatar lembranças e dar à costa memórias afundadas. Mas a praça Mauá à segunda-feira é só o apeadeiro para uma praceta mais adiante, a da Pedro do Sal, roda de samba, cerveja gelada e gente bonita. “Que beleza, ninguém chora, não há tristeza, ninguém sente o dissabor” cantaria o Cartola se ainda por lá andasse, “ é a natureza sorrindo, tingindo, tingindo”.

A Alexandra Lucas Coelho disse que “os cariocas têm de ganhar a vida como toda a gente, mas nunca a perdem por causa disso”. E é isso mesmo, a vida segue no Rio, a máquina não pára, o teleférico desliza, os ónibus circulam, as ondas têm surfistas, as redes de volley fazem serviços e blocos, as praias vendem biquínis, as padarias cheiram a pão de queijo, os moços esfregam os vidros dos carros, as meninas fazem as unhas. Mas é na modorra do ofício, no arrastar da perna, no “quanto tempo tenho” que tudo acontece. A música balança e anda-se ao ritmo dela, a aproveitar a hora, seja no calçadão ou na favela, nos morros ou na praia, em cima de um skate ou de uma prancha de surf.

Mas se estamos a falar de nunca perder nada, então subamos ao Vidigal em dia de festa. é o primeiro festival criativo do morro e no largo juntam-se os brechós e as picanhas, faz-se poesia enquanto se zela pelos direitos das mulheres e dos animais. Os putos estão com as mãos na cerâmica e a seguir têm workshop de hipi-hopi, e quando chegamos a roda de samba já virou roda de capoeira e é uma roda viva de camisas às flores, shortinho até ao umbigo e caracóis à solta. Bem podíamos estar numa festa do Tropicalismo entre os Caetanos e os Giles, as Lees e os Moraes Moreiras. “O rei da brincadeira, é José!/ O rei da confusão, é João!/ Um trabalhava na feira, é José! Outro na construção, é João!”*. é Domingo no largo, no parque, no morro.

O Rio tem aquela geografia traiçoeira que arruína a confiança até dos mais orientadinhos. Maciços, baías, ilhas, restingas, lagoas, serras, rios, morros, o mar que segue numa paralela às tuas costas quando devia seguir o teu braço direito, a Rocinha, a Barra e a Gávea que ficam escondidas atrás dos Dois irmãos e do Vidigal, uma lagoa que se pode confundir com o mar e o céu cinzento do lado Norte do Arrrpoadorrrr e o ceú laranja do lado sul do Arrrpoadorrrr. As garotas de Ipanema estão lá ao lado, “num doce balanço a caminho do mar” e sem pinga de celulite, “tanto bumbum, tanta virilha cavada e ninguém para as imortalizar”**. Claro que há Chicos Buarque pela praia, olhões verdes, pele queimada, costas largas e six packs na barriga mas se fizermos uma disputa sunga versus tanga, são as meninas que vão ganhar. E é assim o Rio, visto do Arpoador ou do Cristo Redentor, do Vidigal ou da Rocinha, de Santa Teresa ou do Museu do Mar.

“Rio 40 graus. Cidade maravilha. Purgatório da beleza. E do caos. Capital do sangue quente. Do Brasil. Capital do sangue quente. Do melhor e do pior do Brasil...”***, cantemos o rio porque “do Leme ao Pontal. Não há nada igual”.****

* Gilberto Gil, Domingo no Parque
**Alexandra Lucas Coelho.
*** Fernanda Abreu
**** Tim Maia